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Minha experiência na Argentina

Por Roberta Fernandes 04/14

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

     

 

 

     Fui pra Buenos Aires trabalhar num projeto cultural em um abrigo para adolescentes no bairro de Barracas, com adolescentes de 12 a 18 anos. Sempre tive muita vontade de morar na Argentina, então tive dúvidas mas não muitas na hora de escolher o destino haha. Eu já falava Espanhol (e como sempre tive aula com Argentino, já tava super acostumada com o voseo e o ch-ch-ch) mas no começo era difícil entender as mil gírias que os meninos usavam. Aos poucos eles foram me ensinando, uns com mais paciência, outros com menos hahaha E o projeto fluiu. A AIESEC daqui (meu LC foi o de Buenos Aires USAL ainda não está no estágio ideal, foram um tanto desorganizados e até um pouco negligentes em alguns aspectos da nossa job description. É um escritório novo que cresceu muito em pouco tempo. Apesar disso, não tive problema com host e alguns membros ajudaram com troca de dinheiro e documentos nos primeiros dias. O projeto não foi perfeito, mas rolou, muito graças à nossa proatividade, vontade e contato com a coordenação do hogar. 

 

    O trabalho com os meninos é basicamente montar uma agenda a cada semana dos temas que vamos abordar com eles - aí vai desde temas culturais, até idiomas, esportes e atualidades - e a programação sempre inclui passeios para parques, museos ou exposições em Buenos. A curiosidade deles ia além do futebol e sempre me perguntavam muita coisa sobre educação, política e desigualdade social. A Argentina se parece com o Brasil em muitos desses aspectos e essa experiência foi fundamental para que eu entendesse mais sobre o país que eu escolhi. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

     Trabalho com uma equatoriana, uma alemã e uma colombiana. O maior desafio é realmente lidar com os adolescentes e o fato de que não temos muito material pra trabalhar com eles, tem que abusar da criatividade. Trabaho a tarde, vou de ônibus e o hogar fica a mais ou menos 30 minutos. O trajeto é muito tranquilo, o transporte público é sem dúvida uma das coisas que Buenos Aires tem de bom - só teve um dia que a cidade estava caótica por conta de uma protesta gigante no centro (tem protesto todo dia em Buenos Aires, mas esse dia foi uma confusão tão grande que o centro parou e a gente não conseguiu ir trabalhar!). Faça o SUBE (o bilhete único porteño) logo nos primeiros dias que isso vai facilitar sua vida - senão os ônibus só aceitam moedas!) Buenos Aires é toda plana e você consegue fazer tudo andando, de bike ou de ônibus - tem bus 24 hrs e todo mundo vai até pra balada de ônibus - aliás, festas só começam lá pras 2 da manhã! Tudo aqui é tarde, Argentino não tem pressa não!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

     Meu programa não incluia hospedagem, então moro num hostel junto com outros intercâmbistas da Aiesec. Esse hostel é indicado pela Aiesec, eles tem parceria. Moro no Centro, 3 quadras do famoso obelisco. Eu estou acostumada a ficar em hostel sempre que viajo então muita coisa não é novidade (dividir quarto, etiquetar comida, de vez em quando aparecer um hóspede peculiar...) mas é a primeira vez que fico morando mesmo em um. O ruim é que você não tem privacidade nenhuma, mas o lado bom é que, como em qualquer hostel, vc conhece muita gente de todo canto. E também como muitos intercambistas vivem aqui a gente é quase uma família hahaha No quarto somos 6 meninas, todas latino americanas (Brasil, Colômbia e Nicarágua).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

   

 

 

     

    A gastronomia Argentina não é tão distinta do Brasil, mas tem suas particularidades (pode esquecer arroz com feijão, por exemplo!) Eu passei super bem nesse aspecto! Geralmente cozinhava no hostel (o pessoal sempre dividia almoço) e as vezes a noite e nos finais de semana saia pra comer. Os clássicos aqui para café da manhã e merenda são as medialunas, espécie de croissant (quase sempre com dulce de leche, que é o melhor da vida), parrilla (asado, a carne é muito boa mesmo), Milanesa e até pelo fato de muita gente ser descendente de italianos, as massas e as pizzas também fazem parte do dia a dia dos argentinos. Comida de rua tem o Choripan, espécie de pão com linguiça daqui, uma coisa de bom! Sorvetes recomendo desapegar do Freddo e provar o Abuela Goye, Volta e a Sorveteria Olímpica, uma sorveteria na Avenida de Mayo, o de dulce de leche é o melhor!) Alfajor é a coisa mais comum e recomendo desapegar do Havanna e provar vários - eu comprava todo dia um de uma marca diferente na esquina de casa haha)você encontra nos quioscos, mini lojinhas que vendem sei lá... quase de tudo e super salvam na hora do aperto (inclusive vários carregam o SUBE haha).

 

    Quanto as bebidas...o drink daqui é o Fernet misturado com Coca Cola (pra quem curte bebida amarga) mas a galera também toma muito Daikiri e Campari com suco de laranja. Buenos tem bons restaurantes pra todos os bolsos, bares e coquetelaria impecável, muita comida de rua $ (hehehe) e fast food (Mc Donalds, Burguer King e Mostaza são os mais comuns!). Ah, Starbucks é uma em cada esquina! 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

    Tive a oportunidade de conhecer outro projeto da AIESEC, da mesma fundação, mas com babies. O orfanato também tinha muitas dificuldades, principalmente financeiras. Mas todo mundo que tava ali fazia o que podia pra dar o melhor pra cada um daqueles bebês. Afinal, é tudo o que eles tinham. Cada um tinha uma história que ia desde abandono até abuso sexual. Muitos – a maioria – ainda não fala muito bem. Não que tenham problemas mentais ou coisa do tipo. Mas porque, claramente, não cresceram no ambiente mais saudável e propício pro desenvolvimento deles. Mas são crianças. Ou seja, faziam bagunça, davam trabalho, faziam birra pra comer e tomar banho. Mas no final do dia, só queriam um pouco de carinho, por mais brega que isso possa soar. Vinham abraçar, vinham pedir colo e companhia (“Quiero ir pero con vos”). Foi uma experiência que mexeu demais comigo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

     Também foi meu primeiro natal fora de casa e foi bem diferente. Fizemos amigo secreto e organizamos uma ceia no hostel. Fizemos uma vaquinha durante a semana e no dia todo mundo ajudou na preparação. Fizemos a cena e ficamos de bobeira até umas 2 de manhã, depois saímos. O costume da galera é esse, cena e brinde com a família e depois "salir de joda", que é ir pra balada! haha Fomos num "boliche" de música eletronica e metade da galera tava com gorrinho de papai noel e no meio dos sets rolavam uns remixes de clássicos natalinos, engraçado! haha Senti bastante falta da família e dos amigos, principalmente da mamis. Mas foi um Natal bem diferente que não vou esquecer tão cedo

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

   

 

 Resumindo, o projeto não foi perfeito, teve altos e baixos. Mas essa experiência me mudou. Correndo o risco de ser extremamente clichê, acho que cada uma de nós aprendeu mais com eles do que eles com a gente. É uma troca de conhecimento muito rica. E fiquei feliz com a minha escolha. Claro que Buenos Aires tem muitos problemas, como qualquer cidade grande na América Latina – coisas que a gente que vive em São Paulo já está acostumado, mas alguns intercambistas de outros lugares ficavam chocados haha E nem vou começar a falar de inflação, mas vou me limitar a dizer que um lugar onde o poder do teu salário cai 20% em 3 meses é muito complicado. Sei que nem todo mundo se acostuma com o jeito das pessoas e com o ritmo de Buenos Aires. Mas pra mim foi único. Sinto muita saudade de lá e isso só pode ser sorte. É muita sorte ter vivido coisas tão lindas. Ainda espero que muita coisa mude e que as coisas melhorem na Argentina. O que não muda é que parte do meu coração agora é irreversivelmente branco e azul.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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